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domingo, 16 de setembro de 2012

Para além do arco-íris. Uma mostra no Museu de Arte de St-Gallen (nordeste da Suíça) explora um tema inabitual


A exposição reúne obras clássicas e contemporâneas que giram em torno da felicidade e incita a pensar na influência da felicidade na criação artística.
Over the rainbow deve ser uma das canções com mais versões gravadas de toda a história. A lendária Judy Garland a transformou em hino universal em 1939 e o Museu de Arte de St-Gallen a escolheu para essa mostra.
“A felicidade é central”
“Todos queremos ser felizes e fugir da rotina. É um desejo comum”, explica Konrad Bitterli como surgiu a ideia de organizar essa exposição.

“Creio que a felicidade é um elemento central do bem-estar humano, como a busca da paz e da serenidade. Pelo menos, é o que vemos constantemente na televisão ou outras comédias românticas. Esta mostra explora esse momento de escapatória das preocupações e da rotina cotidiana, apresentando obras do século 19 ao lado de outras contemporâneas”, precisa o curador de Over the Rainbow.

A exposição é “um diálogo inesperado, delicioso e inclusive divertido entre obras de arte de destaque em distintos períodos em torno de momentos de felicidade tais como nascimentos, famílias, bailes ou a relação com a natureza”.

O museu expõe obras de mestres como Cuno Amiet, Ferdinand Hodler, Robert Zünd, entre outros artistas suíços, ou Max Liebermann, um dos maiores representantes do impressionismo alemão.  Encontramos ainda obras contemporâneas da israelense Yael Bartana, a sul-africana Candice Breitz, o cubano Felix Gonzales-Torres ou do suíço Beat Streuli, além de podermos descobrir artistas emergentes como Georg Gatsas ou Barbara Signer.
Felicidade hoje e antigamente
Parece que durante o século 19, o tema foi mais popular do que nos dias de hoje. “Creio que não. Acho que os seres humanos não mudaram muito desde então. O tema continua sendo popular, como mostram algumas obras de artistas emergentes que apresentamos em St-Gallen”, afirma Konrad Bitterli.

“O que muda são os meios para representar essa felicidade. Porém, da pintura ao vídeo ou à fotografia, o impulso é praticamente o mesmo. No entanto, é certo que as pinturas do século 19 mostrando mães felizes com seus bebês em paisagens floridas não tinham muito a ver com as duras realidades da vida daquela época”, prossegue.
Paisagens idílicas
A Suíça é um país mais inclinado ao contato com a natureza e a felicidade idílica? “Não creio que seja algo especificamente suíço, mesmo se a imagem paradisíaca de vacas e paisagens seja usada como parte de nossa identidade. Hoje a realidade é que a maioria do suíços vive em zonas urbanas.”

Um elemento central da mostra, segundo Konrad Bitterli, consiste em ver “por trás” do que mostram as pinturas. A realidade do trabalho duro e das privações que se escondem em muitas das obras, sobretudo as que representam as famílias camponesas do século 19.

“De fato, Over the Rainbow nos conta uma história de fuga”, conclui Konrad Bitterli, “pois, como na canção, todos sonhamos com um lugar ideal que só existe nos contos infantis.”
Herança germânica e romântica
O economista Bruno S. Frey, professor do Warwick College de Londres, fez da felicidade o tema central de seu trabalho.

“A finalidade última da economia é fazer as pessoas felizes. Seu objetivo não é a produção de bens e serviços, mas a satisfação humana. O sistema financeiro existe somente para fazer com o mundo funcione melhor. Obviamente, isso não é cumprido neste momento”, explica à swissinfo.ch.

“Creio que a felicidade, antes de tudo, está relacionada com outros seres humanos. A felicidade vem de nossos relacionamentos com amigos, amantes ou família, algo que se vê nas obras expostas no Museu de Arte de St-Gallen.”

Sobre o aparente gosto dos suíços pela natureza e o idílico, Bruno S. Frey acredita que “não é algo específico dos suíços, mas próprio da natureza germânica. Trata-se de uma herança do Romantismo.”
“Só os idiotas podem ser felizes””
Ao refletir sobre a questão da felicidade e a arte, chama a atenção que a felicidade não parece ser um tema respeitável nos círculos intelectuais.

“É verdade”, concorda Frey. “Os intelectuais não se sentem muito cômodos com a ideia de felicidade. Eles não gostam e especialmente os artistas parecem fazer grandes esforços para sofrer. Isso é algo que devemos, uma vez mais, à ideia romântica do artista doente.”

“Também parecemos acreditar que somente gente infeliz é produtiva e eficiente, particularmente no mundo germânico”, prossegue o professor, que também ensina na Univesidade Zeppelin em Friedrichshafen (Alemanha). “Porém, a realidade é que os artistas sabem ser mais felizes do que a média da humanidade, visto que fazem o que realmente gostam. Nunca ninguém foi obrigado a ser artista.”

Questionado a falar mais do pouco prestígio intelectual da felicidade, o professor Bruno S. Frey conclui:

“O general De Gaulle disse certa vez: Só os idiotas podem ser felizes, o que é uma postura tipicamente francesa a esse respeito. No mundo anglo-saxão essa ideia não é tão proeminente. De fato, gente feliz tende a ser mais criativa do que os infelizes.  Mas, em minha opinião, os artistas são bipolares, passam de um extremo a outro. As pessoas normais são menos instáveis emocionalmente.”
Rodrigo Carrizo Couto, swissinfo.ch
Adaptação: Claudinê Gonçalves

fonte:

Sob a proteção dos museus de arte

Pesquisadores discutem as formas de preservar a memória de obras realizadas a partir de suportes efêmeros
Dos museus para as ruas ou para o ciberespaço. A necessidade de preservação da memória das obras de arte é um consenso. Elas podem até ser confeccionadas com materiais perecíveis, mas de efêmeras não têm nada, já que, lançando mão às tecnologias, analógicas ou digitais, aos poucos, os artistas constroem os seus arquivos visuais.

Um coiote e Joseph Beyeus... 
Hoje, o questionamento que se coloca não é mais se essas manifestações podem ou não ser preservadas, ou mesmo narradas para as gerações futuras, nem tampouco se as suas "auras" serão alteradas pelos processos de reprodução, como alertava Walter Benjamin, em texto que continua atual quando à intercessão arte e tecnologia. O X da questão é quanto à fragilidade desses meios para a preservação da memória, tema que perpassa também o campo da comunicação, área com a qual a arte contemporânea dialoga com maior frequência, sobretudo a partir dos anos 1960.

Coleção
"Neste aspecto, o museu tem um papel determinante na história humana, sobretudo quando o assunto é preservação da memória", destaca Silvana Boone, professora na Universidade de Caxias do Sul (UCS), doutoranda em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGAVI-UFRGS), com pesquisa sobre arte computacional nos museus da arte contemporânea brasileira.

...na célebre performance "I like America and America likes Me"


"A origem do museu, da forma que conhecemos hoje, - de caráter público, ligado às ideias de coleção, resgate de memória e patrimônio, permanência e conservação da história da arte - tem seu início no século XIX", explica. A pesquisadora lembra que a ação de conservar e apresentar objetos existe desde o Renascimento, quando as famílias nobres e o clero guardavam suas coleções, cujo acesso era restrito à aristocracia e aos religiosos, que detinham o saber e a cultura erudita.

Silvana Boone destaca que o século XIX constitui um período de importantes acontecimentos para a arte e inicia a chamada "era dos museus", lembrando que a França, por exemplo, abre suas coleções privadas durante a Revolução Francesa, no final do século XVIII. Mas é no século XIX que se origina a ideia de museu como lugar de guardar a história coletiva do homem e do conhecimento que se tem dele, a partir dos objetos e da arte produzida em diferentes épocas, completa.

O Museu do Louvre, em Paris, é inaugurado em 1793 como o primeiro museu público francês. A constituição das coleções de arte a partir de então será fundamental para o conceito de museu que será instaurado no século XX. "Teoricamente, o museu deve guardar e conservar o novo e o antigo para a história futura e sua estrutura deve acompanhar o tempo presente", assinala.

Performances
Com relação à formação da memória, a partir do conceito de arte contemporânea quando, muitas vezes, a obra usa material perecível, responde: "A questão da efemeridade na arte não é recente e ao longo da segunda metade do século XX, as manifestações artísticas com esse caráter se davam em tempo e espaço apropriados enquanto um acontecimento". Cita manifestações como Body Art, Happenings e mesmo algumas obras da Arte Conceitual, as quais só puderam ser resgatadas na recente história da arte, através dos registros fotográficos ou em vídeo, porém, com o caráter de memória do evento e não como uma produção estética.

Para Silvana Boone, "a essência ou característica maior de um happening ou de uma intervenção geralmente é o seu tempo de existência". O registro, explica, é um "outro" que conta um tempo passado. Não é mais a obra. O que ocorre é que, hoje, boa parte desses registros encontram-se nos museus, em substituição à própria obra.

O historiador de arte e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Álbio Sales, afirma ser a arte contemporânea bastante abrangente, chamando a atenção para a arte digital cujo armazenamento se dá no ciberespaço. Fica em aberto o tempo que essa obra vai ficar disponibilizada, sendo necessário ser enviadas informações para vários locais desse ambiente virtual.

Ele reitera a posição de Silvana Boone, ao se referir às manifestações como happenings e performances, criadas para desconstruir a ideia de obra de arte como algo concreto. "A arte contemporânea dispensa a materialidade", diz, explicando ser diferente da arte grega, por exemplo, caracterizada pelo material.

Esclarece que o homem moderno inventa os conceitos de preservação. Hoje, alguns museus guardam os elementos que deram origem à obra, na falta de sua materialidade, conceito que pode ser traduzido como "o espiritual ou não- material", característica da arte contemporânea, possibilitando a fruição diretamente com o que o artista buscou, ou seja, a sua ideia.

Fotografia
A fotografia é uma forma de registrar a memória de uma obra, lembrando que também é arte. "Ela existe como registro e como expressão estética", explica o historiador. A intervenção é por natureza efêmera, feita para ficar nas ruas, por um determinado tempo. Ela é baseada no subversão da ordem. A fotografia é apenas um registro e não mais a obra. Existem livros com os comunicados das performances, explicando como é realizada, mas também constitui um evento único, restando o registro. A imagem fotográfica não dá a noção da tri-dimensionalidade, e no caso do videoarte, o material deve ser bruto e não passar por edição.

Aliás, esse tema abre uma discussão também no campo da informação jornalística, como coloca no livro "Videologias", o jornalista Eugênio Bucci, no capítulo "A história na era de sua reprodutibilidade técnica", reclamando que, hoje, nem mesmo se tem acesso aos negativos das fotografias, fazendo referência, ainda, entre o material bruto, colhido pelo jornalista nas rua, e quando passa pela edição, no caso do telejornalismo. "Jornais impressos são coisas palpáveis, concretas, estão materializados em papel. No papel está seu suporte físico. Do papel, assim como da tinta, podem-se examinar a idade e a autenticidade. Já em televisão, como em toda forma de mídia eletrônica, é cada vez mais difícil encontrar o suporte físico original da informação".

No campo da arte, os processos artísticos eram utilizados levando em consideração a durabilidade da obra, diferente do comportamento das vanguardas do inicio do século XX, que apostavam em obras e eventos para chocar e provocar discussões. Não eram feitas para durar, causando dificuldade para a recuperação dessas memórias, citando trabalhos feitos por Picasso, usando papeis colados em telas, sendo difícil a preservação. Outra característica da arte contemporânea é a negação da obra como mercadoria. 

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1181678

Obras de mais de mil artistas são expostas na ArtRio


Obras de mais de mil artistas estão na Feira Internacional de Arte do Rio. A exposição voltada para os negócios tem tesouros que poderiam estar nos melhores museus do mundo.



Das melancias ao robô, tudo está à venda. A galeria americana exibe o retrato que Picasso fez de uma de suas amantes. Ele pode custar até R$ 15 milhões. No mesmo espaço, obras de Andy Warhol.
As galerias estão preparadas para a rotatividade na exposição das obras. Todas têm um pequeno espaço onde guardam trabalhos escolhidos para substituir os que vão embora, e também as obras que já foram vendidas. É o caso do quadro da dupla Os Gêmeos, arrematado por um comprador brasileiro por quase R$ 200 mil.
A previsão é de negócios que vão chegar a R$ 150 milhões. A Art Rio projeta o trabalho dos brasileiros no exterior.
“Muitos estrangeiros vêm aqui, conhecem, compram e levam para fora. Não só privados, mas instituições”, revela Brenda Valansi, organizadora da Art Rio.
Por isso, a artista Ana Bella Geiger resolveu expor fotos inéditas feitas há 40 anos, já agendadas para uma mostra em Nova York.
“Eu acho que é um tesouro que está sendo mostrado. É didático. As pessoas que passam vão absorvendo, vão entendendo, um público que pode ser leigo, ou um público especializado”, diz.
Todo mundo se apaixona por alguma obra. Pode ser o rinoceronte surreal de Dali ou a mulata de Di Cavalcanti.
Os caminhos da arte abrem portas para surpresas e também levam a grandes novidades para a parede. Laurita quer uma obra na sala de casa.
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