Qualquer fã de música sabe que há mil maneiras de encontrar novas
canções online: é só rolar as listas digitais e serviços de rádio online
como o Pandora, que servem também como mecanismos de indicação de
músicas. Do mesmo modo, os inscritos no Netflix são normalmente cobertos
de sugestões que vão de comédias românticas a filmes de terror,
baseadas nos filmes já vistos.
Mas, até agora, não havia nenhum
tipo de orientação automática para amantes da arte que buscassem
descobertas online – nada do tipo "se você gostou de 'Número 1', de
Jackson Pollock, poderá também gostar de 'Número 18', de Mark Rothko".
É
aí que entra o Art.sy, uma startup cuja versão pública acaba de ser
aberta na rede. Esse grande repositório gratuito de imagens de arte e
guia de apreciação de arte online se baseia na ideia de que os públicos
que se sentem à vontade com sites centrados em imagens como o Tumblr e o
Pinterest estão agora habituados a passar horas navegando por entre
telas e esculturas em seus monitores e tablets, especialmente se tiverem
ajuda a um clique de distância.
Depois de dois anos de testes
reservados e com milhões de dólares de investidores, incluindo algumas
celebridades dos mundos da arte e da tecnologia, o site pretende fazer
pela arte visual aquilo que o Pandora fez pela música, e o Netflix,
pelos filmes: tornar-se uma fonte de descoberta, prazer e educação.
Tendo
como parceiros 275 galerias e 50 museus e instituições, o Art.sy já
digitalizou vinte mil imagens no seu sistema de referência, chamado de
Art Genome Project (Projeto Genoma da Arte). Mas, conforme estende o
alcance de sua plataforma, o Art.sy também levanta questões sobre como
(ou se) a análise digital deve ser aplicada à arte visual. Algoritmos
conseguem explicar a arte?
Robert Storr, decano da Escola de Arte da Universidade de Yale, tem suas dúvidas.
"Depende
muito da informação, de quem está fazendo a seleção, de quais são os
critérios, e de quais os pressupostos culturais por trás desses
critérios", diz Storr, que já foi curador de pintura e escultura do
Museu de Arte Moderna de Nova York. Em termos de compreensão da arte,
ele acrescentou: "Tenho certeza de que será redutor".
A tecnologia
é, ao menos, expansiva. Para conseguir fazer sugestões, os computadores
devem aprender um julgamento humano especializado, processo iniciado
com a rotulação: dê à máquina códigos que digam a diferença entre um
retrato renascentista e uma pintura modernista feita com gotejo de
tinta, e então ele poderá selecionar entre infinitas obras, fazendo
comparações e estabelecendo conexões entre elas.
Para o Art Genome
Project, Matthew Israel, 34, doutorado em arte e arqueologia pelo
Instituto de Belas Artes da Universidade de Nova York, lidera uma equipe
de doze historiadores da arte que decidem o que são e como devem ser
aplicados tais códigos. Alguns rótulos (que o Art.sy chama de "genes", e
entre os quais reconhece cerca de 800, com novos sendo acrescentados a
cada dia), denotam qualidades razoavelmente objetivas, como o período
histórico e a região de onde vem o trabalho, ou se ele é figurativo ou
abstrato, ou se pertence a alguma categoria bem estabelecida como o
cubismo, o retrato flamengo, ou a fotografia.
Conforme as
categorias são aplicadas, a cada uma delas é atribuída um valor entre 1 e
100: um Andy Warhol pode receber uma nota alta na escala da pop art,
enquanto uma obra pós-Warhol pode ser ranqueada de outro modo, a
depender de suas influências. O software pode ajudar a filtrar imagens
em busca de qualidades visuais básicas como a cor, mas a alma do juízo
emitido é humana.
"Literalmente, uma pessoa entra e insere ela mesma um número em todos os campos relevantes", diz Israel.
A complexidade técnica é sobrepujada pelos desafios curatoriais.
"Vimos
que os dados são muito mais importantes que a matemática", diz Daniel
Doubrovkine, 35 anos, encarregado da engenharia do Art.sy. "Como você
vai escolher algo 'caloroso' com uma máquina? Não é o nosso caso."
Do
mesmo modo, o Pandora tem a sua salinha cheia de musicólogos
desconstruindo cada música; cada análise é então inserida num algoritmo,
chamado de Music Genome Project, que recomenda canções em seu tocador
com base no gosto dos usuários e das avaliações que eles fazem de cada
faixa. (Joe Kennedy, diretor executivo do Pandora, foi consultor do
Art.sy).
Mas o Art.sy pretende fazer conexões entre obras de arte
que pertencem a mundos aparentemente diferentes, com um catálogo que
abrange peças do British Museum de Londres, da National Gallery de
Washington e do Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles, entre
outros. Um parceiro que entrou no projeto recentemente, o Museu Nacional
de Design Cooper-Hewitt, de Manhattan, que é um braço da Smithsonian
Institution, adicionou objetos ao cardápio, o que será um teste da
tecnologia do site e dos paralelos que é capaz de traçar, diz Seb Chan,
diretor de mídia digital e emergente do Cooper-Hewitt.
Culturalmente,
"o que significa recomendar uma pintura a partir de uma colher do
século VII, por exemplo?", pergunta ele. Antecipando tais questões, a
equipe do Art.sy tem um blog explicando como funciona esse processo.
O
diretor executivo e fundador do site, Carter Cleveland, 25 anos,
imaginou o Art.sy quando concluía sua graduação na Universidade de
Princeton e não conseguia encontrar uma obra de arte de que gostasse
para decorar seu quarto no dormitório. Ajudado por sua família – seu pai
escreve livros sobre arte; sua mãe é financista – depois da graduação
ele conseguiu atrair parceiros como o galerista Larry Gagosian e
investidores como Dasha Zhukova, figurinha do mundo da arte, e Wendi
Murdoch, a esposa de Rupert Murdoch, que tem colaborado nos contatos.
Eric Schmidt, do Google, e Jack Dorsey, do Twitter, também são
investidores, e John Elderfield, que já foi curador chefe de pintura e
escultura do Museu de Arte Moderna, é conselheiro.
Com seu apoio, Cleveland ficou livre para empreender sua ambiciosa visão para o site.
"Toda
a arte do mundo será aberta a qualquer um que disponha de uma conexão à
internet", diz ele, articulando um lema da companhia, senão um plano de
negócios. Espera-se que os rendimentos venham de comissões de vendas e
de parcerias com instituições.
Mas o Art.sy ainda está longe de
ter toda a arte do mundo – o Google Art Project, outro repositório de
imagens, já tem quase o dobro do seu tamanho – e o genoma só é robusto
na medida de sua própria coleção. Um aficionado por antiguidades gregas
ou romanas veria pouco uso nele agora, o que constitui uma omissão
cultural semelhante a não se encontrar filmes de Hitchcock no Netflix.
Storr, de Yale, também se preocupa com a possibilidade de os buracos na
base de dados serem preenchidos com as coisas erradas.
"Esse lugar está cheio de arte ruim, à qual ninguém deveria ser direcionado", diz ele, após examinar o site.
Os
fundadores do Art.sy respondem que, uma vez que a compreensão da arte
está em constante evolução, o site não tem como ser um guia definitivo.
"É melhor olhar para ele considerando a seleção como bons pontos de partida", diz Sebastian Cwilich, chefe de operações do site.
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fonte:
http://entretenimento.r7.com/famosos-e-tv/noticias/na-internet-um-projeto-genoma-para-o-mundo-da-arte-20121018.html