Museus —grandes, pequenos, estatais ou com financiamento privado—
estão sendo abertos em ritmo acelerado na China. Só em 2011, foram 390.
Até
recentemente, os museus de arte contemporânea da China eram privados,
como entidades corporativas ou como vitrines para a vaidade de
colecionadores ricos. Em outubro, um importante precedente foi
estabelecido com a abertura do Museu de Arte Contemporânea de Xangai,
primeiro museu chinês de arte contemporânea a ter patrocínio estatal.
O
Estado demorou para admitir a importância internacional da arte
chinesa, mas quando o fez foi de forma bastante arrojada. O museu de
Xangai, popularmente conhecido como Usina Elétrica de Arte —ele ocupa as
instalações de uma usina do século 19—, é fisicamente espetacular.
Cerca
de 2.500 km a oeste de Xangai, na cidade-oásis de Dunhuang, na beira do
deserto de Gobi, outro museu, bem menos convencional do que a Usina,
está em construção.
Seu propósito não é o de atrair multidões para
ver novas produções, mas sim de mantê-las afastadas do contanto nocivo
com a arte antiga: os murais budistas, em rápida deterioração, que
recobrem o interior de centenas de grutas na região de Dunhuang.
Pintados entre os séculos 4° e 14, num ponto central da Rota da Seda, os
murais nas grutas constituem um museu virtual da cultura cosmopolita
chinesa ao longo de um milênio.
Os museus de Xangai e de Dunhuang
partilham de uma qualidade típica das novas instituições culturais da
China: a ambição. Com frequência, isso se mede simplesmente pelo
tamanho.
Quando o Museu Nacional da China, em Pequim, reabriu após
uma reforma em 2011, falou-se muito, oficialmente, de ele ser o maior
museu do mundo.
O gosto pelo gigantismo ficou evidente outra vez
em Xangai em 2012. No mesmo dia de outubro em que a Usina foi aberta, a
cidade ganhou outro museu estatal, o Museu de Arte da China, às vezes
chamado de Palácio da Arte da China. Dedicado principalmente ao
modernismo chinês do século 20, fica numa excêntrica estrutura de laca
vermelha.
Há muitos outros museus em Xangai, porém menores. A
maioria é particular. Pelo menos dois, o Museu de Arte Minsheng e o
Museu de Arte Rockbund, têm sólidas reputações.
O Minsheng, patrocinado por um banco, é especializado em arte chinesa contemporânea.
O Rockbund funciona sem acervo fixo, só com coleções temporárias. É notável por destacar a arte não chinesa.
Uma
mistura internacional é a regra no crescente número de “museus da
vaidade”, criados por colecionadores privados. No final do ano passado,
Liu Yiqian, bilionário investidor de Xangai, e sua mulher, Wang Wei,
abriram o seu Museu do Dragão, com um acervo de bronzes antigos,
pinturas da era Mao e obras contemporâneas. O casal tem planos para
outro museu.
A China ainda não tem nenhum museu que ofereça uma
visão histórica abrangente da arte contemporânea nacional nos últimos 30
anos.
O governo está dando grande ênfase a Dunhuang. As grutas
budistas são encontradas em vários lugares dessa região, mas a ampla
maioria, cerca de 700, está entalhada em longos penhascos num lugar
chamado Mogao, a vários quilômetros da cidade.
Segundo a lenda, no
século 4°, um monge errante foi atraído a Mogao por uma visão de luzes
piscantes. Acreditando ser aquele um local sagrado, ele esculpiu uma
gruta no penhasco e ali ficou. Outros monges chegaram e mais grutas
foram escavadas.
A existência de Mogao acabou esquecida, mas, em
1900, uma sucessão de exploradores —da Europa, da Rússia, do Japão e dos
Estados Unidos— entrou em cena, arrancou em lascas as pinturas e as
mandou para seus países.
A China começou a restaurar as grutas na
década de 1940. Com o tempo, sua mística cresceu. Em 1979, quando foram
reabertas ao público, 20 mil visitantes apareceram. No final da década
de 2000, a contagem anual superava 800 mil. A essa altura, o dano às
pinturas, por causa da exposição à umidade e ao dióxido de carbono
gerados por humanos, se tornou severa. Hoje, a maior parte das grutas
está fechada.
Para preservar Mogao como obra de arte e destino
turístico, um centro de visitantes será inaugurado neste ano. Os
turistas então irão de ônibus a Mogao, onde verão algumas cavernas e um
museu de artefatos —como esculturas portáteis, têxteis e rolos
manuscritos.
Dunhuang tem lugar especial no imaginário cultural chinês.
Cuidar
de lá é emendar negligências do passado. Ver a arte dessas grutas no
seu lugar, na beira do deserto, é uma experiência profunda.
Como
nas questões da cultura contemporânea, a China está fazendo perguntas,
sobre a natureza da arte e a função dos museus, que raramente
consideramos. A longa curva de aprendizado museológico da China tem
muito a nos ensinar.
fonte:
http://www.opovo.com.br/app/opovo/thenewyorktimes/2013/04/01/noticiasnewyorktimes,3031734/status-da-arte-chinesa-gera-onda-de-novos-museus.shtml
terça-feira, 2 de abril de 2013
Museu Náutico exibe embarcação restaurada
Quem visita a 15ª Festa do Mar, nos pavilhões do Porto Velho de Rio Grande, tem a oportunidade de conhecer o resultado da restauração e interpretação no novo item do acervo do Museu Náutico, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) - o veleiro "Rebôjo". Com 55 anos de idade, o barco tem 9,10m de comprimento, dois mastros, deslocamento de três toneladas e encanta pela beleza das formas.
Trata-se de um veleiro utilizado não
apenas como uma embarcação de recreio dos proprietários. Conforme o
diretor do Complexo de Museus da Furg, Lauro Barcellos, o "Rebôjo" fazia
mesmo as vezes, de fato, de um verdadeiro barco-escola de toda uma
geração de navegadores da região.
A construção do "Rebôjo" teve início em
1958, por iniciativa de dois amigos navegantes - Carlos Hermes Lehn e
Nésio Ferreira Martins. O projeto do argentino Manoel Campos era muito
adequado à navegação na Lagoa dos Patos, dadas as similaridades com o
Rio da Prata, para o qual o projeto fora originariamente desenhado,
notadamente em função do pouco calado.
No início da construção, foi muito
importante a participação de Mendes Neto, proprietário de
estabelecimento comercial de materiais de construção, que possibilitou,
para aquisição da madeira a ser empregada, prioridade na escolha de
madeira selecionada do interior de três vagões de trem da Viação Férrea
do Rio Grande do Sul (VFRGS). Assim, foi possível a obtenção de madeiras
nobres nas medidas adequadas.
Para a quilha e escantilhões foi
utilizada grápia; nas cavernas e sarretas, bem como no fundo,
empregou-se louro. Costado e cabine foram feitos em cedro. Rodas de proa
e popa de angico e, para o convés, compensado naval, este uma novidade à
época.
Apesar de ambos os sócios terem
experiência em carpintaria, não o tinham em construção naval. Por isto,
foi indispensável a participação de outro amigo, Estevão Plana Martins
Jr. - o Estevinho - grande mestre e carpinteiro da ribeira, que dominava
a técnica de queimar as tábuas do costado, cujo emprego era necessário,
dado o pronunciamento da curvatura das tábuas.
De acordo com Lauro Barcellos, dentre
algumas das dificuldades, é digno de nota o fato de não se contar, à
época, com brocas de aço rápido para a furação de aço inox, o que era
feito mesmo com o emprego de brocas de aço carbono, à razão de uma broca
para cada dois furos. Outro fato peculiar foi a adaptação de uma
máquina de fabricar pregos pertencente à Leal Santos S/A, para
possibilitar a confecção de rebites de cobre, tendo sido utilizados
3.600 deles apenas no costado, uma vez que no fundo foram usados
parafusos de latão.
O "Rebôjo" teve de ir para a água em
1964, com o interior inacabado improvisado, por ocasião da mudança da
sede do Rio Grande Yacht Club (RGYC), que da doca da usina elétrica, no
final da rua 24 de Maio, cujo terreno tinha de ser entregue, passou para
as atuais instalações do clube, ao lado de onde, atualmente, se situa o
Museu Oceanográfico.
"Desde então", conta Barcellos, "até
meados dos anos 1980 não foram poucos os velejadores que aprenderam, sob
o comando do mestre Nésio, oriundo de uma família de navegadores das
lagoas da região, acerca da náutica e da vida."
fonte:
http://www.jornalagora.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?e=3&n=41569
Sem emendas, PL sobre Museu Mello Leitão aguarda parecer de deputado
O tucano César Colnago é relator do projeto na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara
Encerrou-se na última semana o prazo para a apresentação de emendas, na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara Federal, ao Projeto de Lei 7.437/2010, que cria o Instituto Nacional da Mata Atlântica pela transferência do Museu Mello Leitão, localizado em Santa Teresa (região serrana do Estado), do Ministério da Cultura para o Ministério da Ciência e Tecnologia, demanda antiga de entidades e pesquisadores do Estado.
Agora, o projeto aguarda o parecer de seu relator, o deputado capixaba
César Colnago (PSDB). Ele assumiu a relatoria após ter o seu apoio
exigido por entidades, em especial a Associação dos Amigos do Museu de
Biologia Mello Leitão (Sambio), uma das principais defensoras do
projeto.
A CCJC é a última comissão pela qual o projeto tem que passar antes de
ir para o plenário da casa. O PL já foi aprovado nas comissões da
Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional (CAINDR),
Ciência e Tecnologia (CCTCI), Trabalho e Administração (CTASP) e de
Finanças e Tributo (CFT).
A proposta foi feita em 2010 pelo governo federal. A transferência do
museu para o Ministério da Ciência e Tecnologia lhe trará mais recursos,
hoje escassos. O museu se encontra desestruturado e a sua transformação
em instituto é a esperança de dias melhores para seus servidores.
Além do Instituto Nacional da Mata Atlântica, o projeto cria o Centro
de Tecnologias Estratégicas do Nordeste, o Instituto Nacional de
Pesquisa do Pantanal e o Instituto Nacional das Águas.
O Museu Mello Leitão foi criado em 1949 pelo naturalista Augusto Ruschi
(1915-1986) e é uma das principais instituições ligadas ao patrimônio
natural do País. Em Santa Teresa, ele controla as estações biológicas de
Santa Lúcia e Caixa D'água. Mesmo com restrições orçamentárias e
carência de recursos humanos, o museu é considerado referência nacional e
internacional no apoio à pesquisa e conservação da mata atlântica, um
dos cinco biomas prioritários em todo o mundo em termos de conservação
da biodiversidade.
A demora na transferência da responsabilidade do Ministério da Cultura
para o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) sobre a administração do
Museu de Biologia Mello Leitão (MBML) prejudica a instituição. A
indefinição impede que o MCT faça investimentos e, por outro lado,
desestimula o Ministério da Cultura a investir em uma administração que
não será mais dele.
fonte:
http://www.seculodiario.com.br/exibir.php?id=5720&secao=10
Após passar seis anos fechado, Museu do Trem será reaberto no Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
- Fechado desde 2007, o Museu do Trem, no bairro do Engenho de Dentro,
na zona norte da capital fluminense, será reaberto ao público amanhã
(2). Guardião das maiores referências da memória ferroviária brasileira,
o museu teve seu prédio e seu acervo tombados em 2011 pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A área onde está situado o Museu do Trem abrigou por décadas as oficinas da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), que chegaram a ser as maiores da América Latina e influíram até na formação do bairro do Engenho de Dentro. A maior parte do terreno, no entanto, é hoje ocupada pelo Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão, construído para os Jogos Panamericanos de 2007.
O museu e sua coleção pertenciam à RFFSA, mas com a extinção da estatal, há seis anos, o acervo foi absorvido pelo Iphan. Segundo o órgão, os mais de mil itens passaram, ao longo desse período, por um criterioso inventário.
O historiador Bartolomeu d'El-Rei Pinto, que desde julho do ano passado responsável pelo museu, disse que a sua reabertura vinha sendo reivindicada há tempos por associações de antigos funcionários da RFFSA e por vários interesssados na memória do transporte ferroviário. “É o único museu dedicado ao trem no estado do Rio de Janeiro, e o único espaço cultural do bairro. As pessoas passavam por aqui e batiam na porta para ver o museu, mesmo sabendo que ele estava fechado”, declarou.
O grande destaque da coleção é a locomotiva Baroneza, fabricada na Inglaterra, movida a vapor e a primeira a trafegar na Estrada de Ferro de Petrópolis, ferrovia pioneira do país, implantada pelo Barão de Mauá. Outros itens importantes são um vagão usado pelo ex-presidente Getúlio Vargas e outro usado pelo o rei Alberto, da Bélgica, quando esteve em visita oficial ao Brasil, em 1922.
Utensílios, mobiliário dos trens e equipamentos ferroviários também estão expostos no museu.
De acordo com o historiador, para reabrir o espaço foi preciso apenas uma revisão na parte elétrica e no sistema de iluminação. “O acervo vinha sendo mantido limpo e arrumado”, disse. No entanto, por falta de funcionários, o museu não poderá abrir, pelo menos por enquanto, nos fins de semana.
A visitação pública será de segunda a sexta-feira, das 10h às 15h, com entrada franca. As escolas poderão agendar visitas guiadas pelo telefone (21) 2233-7483, também disponível para informações em geral. O Museu do Trem fica na Rua Arquias Cordeiro, 1.046, no Engenho de Dentro, zona norte do Rio.
fonte:
http://www.jb.com.br/cultura/noticias/2013/04/01/apos-passar-seis-anos-fechado-museu-do-trem-sera-reaberto-no-rio-de-janeiro/
A área onde está situado o Museu do Trem abrigou por décadas as oficinas da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), que chegaram a ser as maiores da América Latina e influíram até na formação do bairro do Engenho de Dentro. A maior parte do terreno, no entanto, é hoje ocupada pelo Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão, construído para os Jogos Panamericanos de 2007.
O museu e sua coleção pertenciam à RFFSA, mas com a extinção da estatal, há seis anos, o acervo foi absorvido pelo Iphan. Segundo o órgão, os mais de mil itens passaram, ao longo desse período, por um criterioso inventário.
O historiador Bartolomeu d'El-Rei Pinto, que desde julho do ano passado responsável pelo museu, disse que a sua reabertura vinha sendo reivindicada há tempos por associações de antigos funcionários da RFFSA e por vários interesssados na memória do transporte ferroviário. “É o único museu dedicado ao trem no estado do Rio de Janeiro, e o único espaço cultural do bairro. As pessoas passavam por aqui e batiam na porta para ver o museu, mesmo sabendo que ele estava fechado”, declarou.
O grande destaque da coleção é a locomotiva Baroneza, fabricada na Inglaterra, movida a vapor e a primeira a trafegar na Estrada de Ferro de Petrópolis, ferrovia pioneira do país, implantada pelo Barão de Mauá. Outros itens importantes são um vagão usado pelo ex-presidente Getúlio Vargas e outro usado pelo o rei Alberto, da Bélgica, quando esteve em visita oficial ao Brasil, em 1922.
Utensílios, mobiliário dos trens e equipamentos ferroviários também estão expostos no museu.
De acordo com o historiador, para reabrir o espaço foi preciso apenas uma revisão na parte elétrica e no sistema de iluminação. “O acervo vinha sendo mantido limpo e arrumado”, disse. No entanto, por falta de funcionários, o museu não poderá abrir, pelo menos por enquanto, nos fins de semana.
A visitação pública será de segunda a sexta-feira, das 10h às 15h, com entrada franca. As escolas poderão agendar visitas guiadas pelo telefone (21) 2233-7483, também disponível para informações em geral. O Museu do Trem fica na Rua Arquias Cordeiro, 1.046, no Engenho de Dentro, zona norte do Rio.
fonte:
http://www.jb.com.br/cultura/noticias/2013/04/01/apos-passar-seis-anos-fechado-museu-do-trem-sera-reaberto-no-rio-de-janeiro/
Arquivo Público do Estado publica acervo do Deops na internet
Agência FAPESP – O Arquivo Público do Estado de São Paulo
lançou oficialmente na segunda-feira (01/04) uma parte importante do seu
acervo digitalizado na internet, no site “Memória Política e Resistência”.
O material inclui mais de 274 mil fichas e 12,8 mil prontuários
produzidos pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São
Paulo (Deops), pelo Departamento de Comunicação Social e pelo Dops de
Santos ao longo de um período que abrangeu duas ditaduras brasileiras.
O projeto teve apoio da FAPESP, que auxiliou a compra de equipamentos para a digitalização, do Ministério da Justiça (projetos "Marcas da Memória") e da Casa Civil da Presidência da República (projeto "Memórias Reveladas").
O Deops-SP, denominado Delegacia de Ordem Política e Social em sua origem e, posteriormente, como última denominação, Departamento Estadual de Ordem Política e Social, foi criado em 30 de dezembro de 1924, por meio da Lei nº 2.034/24, que visava reorganizar a polícia do Estado.
"O órgão tinha como objetivo prevenir e reprimir delitos considerados de ordem política e social contra a segurança do Estado. Para isso, desenvolveu um grande aparato para monitoramento das atividades de pessoas e grupos considerados potencialmente perigosos à ordem vigente. Um dos principais instrumentos utilizados por essa vigilância foi a documentação: o acervo Deops-SP foi constituído, ao longo dos anos, pela documentação produzida por esse órgão e também de documentos apreendidos pelos órgãos de repressão. Sendo assim, podemos entendê-la como um espelho da forma de funcionamento das estruturas repressivas no Estado de São Paulo", destacam os organizadores do site.
O acervo do Deops é composto por quatro conjuntos principais: Ordem Social, Ordem Política, Dossiês e Prontuários. Também conta com publicações como os Livros de Portaria do Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo e Livros de Inquéritos.
"O esforço de digitalização e publicação dos documentos do Deops, assim como nosso trabalho de gestão documental, garante o acesso da população às informações que lhe dizem respeito”, disse o coordenador do Arquivo Público do Estado, Carlos Bacellar.
Lauro Ávila Pereira, diretor do Departamento de Preservação e Difusão do Acervo, lembrou outro aspecto da publicação online desses documentos. “Esta iniciativa pode ajudar a identificação daqueles agentes públicos que, durante a época da ditadura, cometeram violações dos Direitos Humanos. Temos que lembrar que o Brasil é um dos poucos países da América do Sul onde esse tipo de crime jamais foi punido”, disse. Pereira ressaltou também a importância didática do acervo na internet, que pode ser utilizado pelos professores em sala de aula com mais facilidade.
O governador Geraldo Alckmin participou da cerimônia de lançamento. "As pessoas podem ter acesso de casa, não tem nenhuma senha, é tudo público. É muito importante no sentido de transparência e de informação para as famílias das vítimas do período da ditadura", disse.
Projetos Temáticos
Entre 1924 e 1983, o Deops vigiou pessoas, instituições e movimentos políticos e sociais, funcionando como um dos principais braços da repressão do Estado brasileiro, em especial durante o primeiro governo Vargas (1930-1945) e do regime militar de 1964 a 1985.
O site é a segunda etapa de um projeto maior iniciado pelo Proin - Projeto Integrado Arquivo do Estado/Universidade de São Paulo (USP) em 1999. O material sobre o órgão foi liberado para consulta pública apenas em 1994, quase dez anos após o fim da ditadura. Os documentos, no entanto, eram de difícil acesso. "Não havia ainda uma base de dados que facilitasse a busca de processos por cidadãos fichados e/ou presos por crime político", disse a pesquisadora Maria Luiza Tucci Carneiro, professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, pioneira no estudo do material.
Depois de desenvolver entre 1995 e 1996 com outros seis pesquisadores um projeto financiado pelo Instituto Goethe sobre a presença de nazistas e refugiados judeus no Brasil depois da 2ª Guerra Mundial, Tucci Carneiro obteve apoio da FAPESP por meio da modalidade Projetos Temáticos para a criação de um arquivo virtual dos documentos do Deops – contribuindo com um inventário para o site que foi lançado agora.
O trabalho desenvolvido ao longo de cerca de oito anos pode ser conferido no site do Proin, que ainda hoje publica os resultados de suas pesquisas. Sob a orientação de Tucci Carneiro, uma equipe de 30 pesquisadores digitou a partir de 1999 as mais de 185 mil fichas da delegacia. “Na época não tínhamos equipamentos nem uma base de dados capazes de efetuar uma busca avançada junto às fichas policiais”, disse a coordenadora do projeto.
Desde o ano 2000, as fichas nominais dos prontuários podem ser consultadas pela internet, com a identificação do nome do "prontuariado" e o número do processo.
Além disso, foram digitalizadas e colocadas no site as primeiras páginas dos jornais, panfletos e livros confiscados durante os autos de busca nas residências dos suspeitos ou das associações. Sob a coordenação do professor Boris Kossoy, da Escola de Comunicação e Artes da USP, o Proin desenvolveu ainda um inventário de fotografias confiscadas dos álbuns de família ou produzidas pelo Laboratório de Fotografia do Gabinete de Investigação/Deops, que eram anexadas aos prontuários.
“Através do projeto de digitalização do Fundo Deops entre 1999-2010, conhecemos não apenas o documento/artefato, mas também conseguimos recuperar a lógica da polícia naquela época”, disse.
Além de Tucci Carneiro e Kossoy, participaram do projeto do Proin as professoras Elizabeth Cancelli (FFLCH-USP), Priscila Perazzo (Universidade Santo André), Regina Pedroso (Universidade Mackenzie), os professores Carlos Alberto Boucault, Pádua Fernandes e Álvaro Andreucci (Uninove).
Outro projeto temático com apoio da FAPESP foi desenvolvido por Maria Aparecida Aquino, hoje da Universidade Presbiteriana Mackenzie, ue mapeou a série Dossiês/Deops.
Nos prontuários, tem-se acesso a ficha policial, relatórios de investigação, ordens de prisão, relação de impressos apreendidos (livros, jornais, panfletos), tudo o que ajudasse a “provar” que a pessoa vigiada era criminosa, incluindo fotos de álbuns de família e as produzidas pela própria polícia. “Os prontuários têm documentação valiosíssima”, disse Tucci Carneiro.
Se na primeira etapa as fichas foram digitadas e apenas parte do material digitalizado, agora o prontuário poderá ser consultado online na íntegra, facilitando o trabalho de pesquisadores.
O material já rendeu muitas dissertações de mestrado e teses de doutorado, além de livros, como A Imprensa Confiscada pelo Deops, 1924-1983, escrito por Tucci Carneiro em coautoria com Boris Kossoy (Ateliê Editorial; Imprensa Oficial e Arquivo do Estado, 2003), que foi premiado com o Jabuti em 2004, na categoria Ciências Humanas. Dois novos inventários estão prestes a ser lançados, sob a organização de Tucci Carneiro:“Panfletos sediciosos” e "É proibido ler: livros e as bibliotecas proibidas".
Agora, o material está sendo disponibilizado na íntegra, mas por partes. Calcula-se que o conteúdo que já está no ar forma 10% do que virá a ser disponibilizado.
fonte: Fapesp
O projeto teve apoio da FAPESP, que auxiliou a compra de equipamentos para a digitalização, do Ministério da Justiça (projetos "Marcas da Memória") e da Casa Civil da Presidência da República (projeto "Memórias Reveladas").
O Deops-SP, denominado Delegacia de Ordem Política e Social em sua origem e, posteriormente, como última denominação, Departamento Estadual de Ordem Política e Social, foi criado em 30 de dezembro de 1924, por meio da Lei nº 2.034/24, que visava reorganizar a polícia do Estado.
"O órgão tinha como objetivo prevenir e reprimir delitos considerados de ordem política e social contra a segurança do Estado. Para isso, desenvolveu um grande aparato para monitoramento das atividades de pessoas e grupos considerados potencialmente perigosos à ordem vigente. Um dos principais instrumentos utilizados por essa vigilância foi a documentação: o acervo Deops-SP foi constituído, ao longo dos anos, pela documentação produzida por esse órgão e também de documentos apreendidos pelos órgãos de repressão. Sendo assim, podemos entendê-la como um espelho da forma de funcionamento das estruturas repressivas no Estado de São Paulo", destacam os organizadores do site.
O acervo do Deops é composto por quatro conjuntos principais: Ordem Social, Ordem Política, Dossiês e Prontuários. Também conta com publicações como os Livros de Portaria do Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo e Livros de Inquéritos.
"O esforço de digitalização e publicação dos documentos do Deops, assim como nosso trabalho de gestão documental, garante o acesso da população às informações que lhe dizem respeito”, disse o coordenador do Arquivo Público do Estado, Carlos Bacellar.
Lauro Ávila Pereira, diretor do Departamento de Preservação e Difusão do Acervo, lembrou outro aspecto da publicação online desses documentos. “Esta iniciativa pode ajudar a identificação daqueles agentes públicos que, durante a época da ditadura, cometeram violações dos Direitos Humanos. Temos que lembrar que o Brasil é um dos poucos países da América do Sul onde esse tipo de crime jamais foi punido”, disse. Pereira ressaltou também a importância didática do acervo na internet, que pode ser utilizado pelos professores em sala de aula com mais facilidade.
O governador Geraldo Alckmin participou da cerimônia de lançamento. "As pessoas podem ter acesso de casa, não tem nenhuma senha, é tudo público. É muito importante no sentido de transparência e de informação para as famílias das vítimas do período da ditadura", disse.
Projetos Temáticos
Entre 1924 e 1983, o Deops vigiou pessoas, instituições e movimentos políticos e sociais, funcionando como um dos principais braços da repressão do Estado brasileiro, em especial durante o primeiro governo Vargas (1930-1945) e do regime militar de 1964 a 1985.
O site é a segunda etapa de um projeto maior iniciado pelo Proin - Projeto Integrado Arquivo do Estado/Universidade de São Paulo (USP) em 1999. O material sobre o órgão foi liberado para consulta pública apenas em 1994, quase dez anos após o fim da ditadura. Os documentos, no entanto, eram de difícil acesso. "Não havia ainda uma base de dados que facilitasse a busca de processos por cidadãos fichados e/ou presos por crime político", disse a pesquisadora Maria Luiza Tucci Carneiro, professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, pioneira no estudo do material.
Depois de desenvolver entre 1995 e 1996 com outros seis pesquisadores um projeto financiado pelo Instituto Goethe sobre a presença de nazistas e refugiados judeus no Brasil depois da 2ª Guerra Mundial, Tucci Carneiro obteve apoio da FAPESP por meio da modalidade Projetos Temáticos para a criação de um arquivo virtual dos documentos do Deops – contribuindo com um inventário para o site que foi lançado agora.
O trabalho desenvolvido ao longo de cerca de oito anos pode ser conferido no site do Proin, que ainda hoje publica os resultados de suas pesquisas. Sob a orientação de Tucci Carneiro, uma equipe de 30 pesquisadores digitou a partir de 1999 as mais de 185 mil fichas da delegacia. “Na época não tínhamos equipamentos nem uma base de dados capazes de efetuar uma busca avançada junto às fichas policiais”, disse a coordenadora do projeto.
Desde o ano 2000, as fichas nominais dos prontuários podem ser consultadas pela internet, com a identificação do nome do "prontuariado" e o número do processo.
Além disso, foram digitalizadas e colocadas no site as primeiras páginas dos jornais, panfletos e livros confiscados durante os autos de busca nas residências dos suspeitos ou das associações. Sob a coordenação do professor Boris Kossoy, da Escola de Comunicação e Artes da USP, o Proin desenvolveu ainda um inventário de fotografias confiscadas dos álbuns de família ou produzidas pelo Laboratório de Fotografia do Gabinete de Investigação/Deops, que eram anexadas aos prontuários.
“Através do projeto de digitalização do Fundo Deops entre 1999-2010, conhecemos não apenas o documento/artefato, mas também conseguimos recuperar a lógica da polícia naquela época”, disse.
Além de Tucci Carneiro e Kossoy, participaram do projeto do Proin as professoras Elizabeth Cancelli (FFLCH-USP), Priscila Perazzo (Universidade Santo André), Regina Pedroso (Universidade Mackenzie), os professores Carlos Alberto Boucault, Pádua Fernandes e Álvaro Andreucci (Uninove).
Outro projeto temático com apoio da FAPESP foi desenvolvido por Maria Aparecida Aquino, hoje da Universidade Presbiteriana Mackenzie, ue mapeou a série Dossiês/Deops.
Nos prontuários, tem-se acesso a ficha policial, relatórios de investigação, ordens de prisão, relação de impressos apreendidos (livros, jornais, panfletos), tudo o que ajudasse a “provar” que a pessoa vigiada era criminosa, incluindo fotos de álbuns de família e as produzidas pela própria polícia. “Os prontuários têm documentação valiosíssima”, disse Tucci Carneiro.
Se na primeira etapa as fichas foram digitadas e apenas parte do material digitalizado, agora o prontuário poderá ser consultado online na íntegra, facilitando o trabalho de pesquisadores.
O material já rendeu muitas dissertações de mestrado e teses de doutorado, além de livros, como A Imprensa Confiscada pelo Deops, 1924-1983, escrito por Tucci Carneiro em coautoria com Boris Kossoy (Ateliê Editorial; Imprensa Oficial e Arquivo do Estado, 2003), que foi premiado com o Jabuti em 2004, na categoria Ciências Humanas. Dois novos inventários estão prestes a ser lançados, sob a organização de Tucci Carneiro:“Panfletos sediciosos” e "É proibido ler: livros e as bibliotecas proibidas".
Agora, o material está sendo disponibilizado na íntegra, mas por partes. Calcula-se que o conteúdo que já está no ar forma 10% do que virá a ser disponibilizado.
fonte: Fapesp
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